O que é o Studium Vivário?

O nome studium servia para designar os centros educacionais da idade média, antes de surgirem as universidades. No studium, só é admissível estudantes prenhes de um amor desinteressado pela sabedoria; na universidade, nem sempre. Hoje em dia, quase nunca. Como diz Hugo de São Vítor: “De todas as coisas a serem buscadas, a primeira é a Sapiência, na qual reside a forma do bem perfeito”. Será que é este o primeiro bem desejado aos nossos filhos?

Vivário advém do lugar onde as aulas são ministradas: lá encontramos muitas árvores, hortaliças, aves, numa região quase toda habitada por famílias. Vida é o que mais encontramos lá. O nome também é uma homenagem ao projeto educacional de Cassiodoro (o mosteiro de São Martinho, que recebeu o apelido de Vivarium em virtude dos viveiros de peixes que eram cultivados ao lado do local).

Como é o local?

Escolhi o local com o desejo de que ele mesmo, sutilmente, permitisse que o aluno se encontrasse, não que ele se perdesse. Que tipo de identidade seria possível cultivar sendo depositado num cubículo onde o único e primeiro interesse comum é passar para o próximo ano, todo dissolvido numa massa informe de centenas de pares, sem quase ou nenhuma vontade de estar ali, confinados? É por isso que desejamos poucos alunos, poucos mas com a força de um semelhante e profundo amor. Num local que propicie o recolhimento, o recreio honesto, sóbrio, sereno; lúdico sem contudo favorecer o animalesco.

Studium Superior: projeto de formação de professores

Além do Studium Vivário, onde se cultiva o ensino das artes liberais, há o Studium Superior. Nele ocorre a continuidade desse programa. Disponível gratuitamente aos que desejarem prosseguir na atividade docente. Seu programa é dedicado ao estudo da física, da metafísica, da ética e da teologia, em um currículo de estudos de cerca de 12 anos.  A finalidade principal dessa reunião de estudos superiores é formar professores para o próprio studium e, colateralmente, mentes profundas que possam ser luzeiros para os dias de hoje. A ideia é separar professores com profunda bagagem filosófica e teológica, que sirvam de verdadeiras plataformas docentes e de inspiração aos jovens que desejam seguir um caminho de vida parecido.

Professor fundador

Pela maior familiaridade, falo em primeira pessoa. Nasci em Guairaçá-PR, no ano de 1998 da graça de Nosso Senhor, memória de São Thomas More. Criado no campo até o fim da adolescência. Toda minha formação regular se deu em escola pública. Por volta dos 13 anos, por algum desígnio inexplicável, interessei-me pela literatura. De fato é inexplicável que alguém, morando no campo, numa família de simples agricultores, sem qualquer incentivo ou estímulo, mesmo da parte dos professores, tenha se embrenhado por Machado de Assis, Graciliano Ramos e Shakespeare num cenário onde cujas obras acumulavam poeira nas estantes.

Por incrível que pareça, essa breve notícia perfaz a medula desse projeto: o céu e a liberdade. Foi contemplando o céu estrelado toda noite que pude me habituar ao silêncio e à simplicidade; a atenção ao mundo à volta me levou, imagino, à curiosidade pelo cosmos humano - à literatura portanto - por um livre interesse. A realidade que desde cedo roçava minha pele, fez-me intrigar pelas coisas, por todas as coisas.

Já no início do ensino médio decidi que faria Filosofia e Direito. Em 2016, passei para Direito na Universidade Estadual de Maringá, sendo que filosofia faria na PUC-PR, ao mesmo tempo. Porém, logo em seguida também passei em Direito na UFPR, que conseguiu minha preferência em virtude do meu alimentado desejo por morar em Curitiba. Ainda em 2016, afastado dos sacramentos, conheci amigos que recebiam formação do Opus Dei e, no mesmo período, na própria faculdade, tomei contato com a obra de Santo Tomás. Converti-me em 2017. Ainda na faculdade, frequentei disciplinas dos cursos de Psicologia, História, Letras, Ciências Sociais e, sobretudo, Filosofia. Esse livre interesse pela sabedoria sempre esteve em mim, mesmo que por linhas tortas. Já no ensino médio eu estudava quase que por deleite; chegando a escrever artigos sobre sociologia para o site de uma socióloga francesa. Tomando conselhos aqui e acolá, resolvi abandonar o Direito e fazer Filosofia.

Foi nesse intervalo que a questão do ensino floresceu mais fortemente em mim. Após algum tempo estudando, fui me distanciando da ideia de seguir uma carreira universitária. A preocupação com a futura formação de minha família e de meus filhos me fizeram estudar a espiritualidade voltada aos leigos e vias de educação sustentadas na experiência familiar. Foi então que constatei o que sempre houvera experimentado, o motor mesmo do meu próprio estudo: não há ensino sem o mútuo e desinteressado amor - entre professor e aluno - pelo fruto do ensino, que é a verdade. Isso para mim se tornou dramático porque fez-me desfazer da intenção pela carreira acadêmica.

Ademais,, foi tão dramático que até mesmo me desencorajou o ensino. Diante de minha consciência, se continuasse a dar aulas para quem nãos as desejava, ou para quem as quisesse tão só por um diploma ou por uma profissão, diante de mim e de Deus, seria algo como um aborto. Numa situação parecida, seria como um cirurgião tentando transplantar um coração em alguém já morto. Contudo, à medida que ia estudando, novas pessoas iam-se juntando a mim, de modo que a solidão, quanto mais suportada, tanto mais era preenchida por outras pessoas que de algum modo enxergavam nessa minha postura algo do que elas mesmas estavam procurando.

Após o incentivo de alguns amigos, sobretudo o Professor Lúcio Lobo, titular da cadeira de Filosofia Medieval na UFPR, e Bernardo Brandão, que leciona literatura grega na UFMG, comecei a falar sobre temas diversos, na medida em que os estudava e ainda estudo, como que assumindo o ofício docente. Depois de um tempo, também, acabei constatando que o problema da educação nacional jamais se resolveria pela fundação de colégios isentos de ideologia, nem mesmo pela fundação de colégios com currículos escolares sujeitos ao MEC, mas perfumados de piedade e formação católica. Essas iniciativas são elogiáveis, mas servem antes como paliativos do que como curativos. São fundados mais se pensando no bem das famílias elas próprias, não tanto no bem do homem, de modo que em três ou quatro gerações, por falta de solidez, tudo desaba. Mesmo o homeschooling, por outro lado, até um certo ponto, é impraticável sem o auxílio de professores especialmente dedicados à educação. 

Diante dessa conjuntura, resolvi arriscar-me a empreender um projeto que ataca diretamente a causa cancerígena da educação atual. Após receber o apoio de alguns pais, começamos o empreendimento prático. Uma educação de tipo contemplativa é inviável se toda a sua estrutura não estiver suficientemente voltada à busca livre pela verdade.

Obviamente, só pude empreender algo assim por tê-lo vivido dramaticamente em mim mesmo. E só posso transmiti-lo como um bem, consequentemente, por percebê-lo como um bem que me é caro.

Atualmente eu me dedico, de modo independente, ao estudo de temas de filosofia, educação e cultura brasileira, pesquisando e escrevendo.


Renam Batista Larentis

Confiamos nosso projeto à intercessão de Santo Agostinho, já que o studium fica na circunscrição da paróquia Santo Agostinho e Santa Mônica